Aluno agride diretor: Quem está errado, aluno ou diretor?
Por Ely Paschoalick*
Pra mim tudo não passa de uma sucessão de atitudes equivocadas e vou neste artigo colocar minha análise do fato.
A diretora, com suas informações, diagnostica o aluno como um fato consumado, irremediável e necessário de ser excluído do ambiente escolar “Devido a personalidade agressiva dele, há necessidade de estar agredindo física e verbalmente as pessoas…”
Buscando na net sobre personalidade agressiva encontrei no site do psicólogo ANTONIO CARLOS ALVES DE ARAÚJO explicações que deixam claro o que se passou no íntimo deste aluno:
“Por definição, dentro de um parâmetro psicológico, a pessoa agressiva é aquela que reage a todo acontecimento, como se fosse uma prova, contenda ou disputa na sua leitura mental. A competição passa a reinar na alma da pessoa; e se fizermos um levantamento da história do indivíduo, descobriremos que desde cedo o mesmo se esforçou em demasia para não vivenciar a experiência da exclusão”.
O psicólogo continua afirmando: “A crítica é sempre devastadora para estas pessoas”.
Somando as informações acima com as da diretora e analisando o fato em si, o aluno já se encontrava em uma situação de exclusão, pois se encontrava fora da sala de aula e a diretora chamou-o para ser criticado.
Quero também comentar a afirmação da repórter: “Um estudante de apenas 15 anos…” Será que devemos afirmar apenas…
15 anos, já é uma idade onde o indivíduo sabe pensar abstratamente e merece ser tratado com todo o respeito as suas necessidades. Será que suas necessidades são somente as de agredir, como considera a diretora?
A diretora em seu relato continua: “O momento da agressão começou quando eu o encaminhei para a supervisão e ao fazer o apontamento…”
Será que ali foi o início ou apenas mais uma situação onde o mesmo sentiu-se, como há muito se sentia, desvalorizado e inadequado…
“no que ele me empurrou eu saí para chamar a polícia…”
Que campo de batalha é este que se transformou uma diretoria escolar, onde é necessário passar a autoridade de diretora para uma força maior e ainda armada?
Observem como a diretora define o aluno: “Esse é um complicado, falta limite e ele não tem senso de responsabilidade com a escola. Ele tem dificuldades pedagógicas, tem dificuldade no trato com os professores”.
Na primeira parte da afirmação “Esse é um complicado” a diretora se refere a ele como se fosse um objeto e não uma pessoa. Chama-o de complicado numa clara confissão de que não consegue entender o mundo interno de um adolescente.
E continua: “não tem senso de responsabilidade” fica claro que a própria escola gera alunos sem senso de responsabilidade, quando o isola no lugar de integrá-lo e auxiliá-lo a conviver com tarefas, deveres, direitos, crianças, professores, funcionários e pessoas em geral. Se ele tem 15 anos, pela lei nacional, pelo menos 8 anos de convivência escolar ele possui e não aprendeu a ser responsável nem pelo que fala ou pensa.
No meu entender este adolescente é um produto desta escola que exclui.
Na segunda parte “ele tem dificuldades pedagógicas”…Lembro-me da afirmação de meu amigo Prof. José Pacheco “Não há dificuldades de aprendizagem e sim dificuldades de ensinagem.” E esta afirmação se concretiza no final da afirmação feita pela diretora sobre o aluno: “tem dificuldade no trato com os professores…” e eu pergunto: “Não serão os professores que têm dificuldades no trato com ele? “
A diretora afirma na reportagem: “Eu trabalhando em meu local de trabalho, fazendo o que sei e gosto de fazer…” e eu pergunto: qual a parte de sua função como diretora que ela gosta de fazer? Lidar com as ovelhinhas obedientes? E deixar as rebeldes para a polícia lidar?
Será que sabe? Se uma pessoa lê na placa: “Cuidado! Leão bravo!” e vai afagar a cabeça deste leão e o leão lhe ataca podemos dizer que tal pessoa teve habilidade para lidar com o leão bravo?
“Eu me senti agredida, física, mental e emocionalmente”, concluiu.
Meu desejo é que este fato impulsione a senhora diretora a sair da posição de vítima e iniciar a construção dos saberes que seu cargo requer.
Temos um livro de bolso do Dr. Augusto Cury que são apenas 139 ¼ de páginas onde ele reflete sobre “Filhos brilhantes, alunos fascinantes”.
Efetivar a leitura deste livro, juntamente com um grupo de colegas de trabalho, refletindo sobre os ensinamentos que lá se encontram, creio que já é um bom começo neste caminho de instrumentalizar os profissionais da educação a praticar uma educação inclusiva e restauradora.
Outro caminho é ouvir atentamente o relato do professor Pacheco quando conta sobre um caso de sucesso com um aluno agressivo, chamado André, de 15 anos, expulso de uma outra escola que chegou à Escola da Ponte.
É muito bonito ouvir um relato real onde o diretor afirma: “Na minha escola ninguém bate, nem com um olhar. Todos os olhares são afáveis…”
Professores, vamos aprender a lidar com a adversidade e com as múltiplas formas de aprender e vamos reconstruir uma escola que forme cidadãos livres capazes de escolher, obedecer e criar leis.
*Ely Paschoalick é educadora e consultora em comportamento humano, nascida em Batatais – SP. É a terceira filha dos educadores sociais Guilherme Paschoalick e Maria Alzira Corrêa Paschoalick. Ely é avó de cinco netos Eduardo, Fernando, Roberto, Nikolas e Guilherme. É mãe de Tatiana Cristina, Vanessa Cristina e Moisés Guilherme. Paschoalick realiza palestras por todo o Brasil; atende consultas de orientação às crianças, jovens, pais, professores, supervisores e demais envolvidos no processo educacional; presta consultoria educacional aplicada em escolas e consultoria organizacional a empresas de prestação de serviço, comércio e indústria. É mediadora do programa “Concentração Training” cujos exercícios ampliam o poder de: Observar! Analisar! Perceber! Comparar! Sintetizar! Concluir! E auxiliam o aluno a desenvolver uma autoestima positiva. Ely é colunista de vários sites e constantemente está na mídia regional do Triângulo Mineiro -onde reside- que carinhosamente a chama de “Super Nany do Cerrado”. Ely Paschoalick possui formação em Administração Escolar, com especialização em consultoria Organizacional e Educacional. Atua profissionalmente desde 1968 tendo ministrado palestras, cursos e consultas para mais de 30 mil pessoas atendendo consultas a alunos de todas as idades, pais e educadores.
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